Rua Solimões, 641 - São Francisco, Curitiba/PR
  • (41) 3013-7562

Mais do que prestação de serviços...

Uma parceria!

Governo não vai ajudar empresas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu ontem do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, a informação de que há uma grande retração na atividade econômica no mundo, o que pode levar a uma recessão global. Os integrantes da equipe econômica também disseram que o Brasil tem condições de resistir à crise e de oferecer crédito, a preço de mercado, para as companhias que tiveram prejuízo em operações com derivativos. "As empresas que ousaram no mercado futuro têm que pagar o preço de sua ousadia. Não será o governo que vai cobrir isso", afirmou o ministro da Fazenda. Na reunião, ficou decidido que o governo vai correr para destinar crédito aos setores de construção civil, agrícola e de veículos, além de dar garantias de capital de giro de modo geral e para pequenas e médias empresas. Mantega e Meirelles disseram a Lula que até agora o governo já transferiu R$ 50 bilhões para financiamentos, obtidos principalmente com a redução do depósito compulsório que os bancos fazem no BC. Foi dito ainda que hoje o crédito no Brasil representa de 70% a 80% do ofertado antes da crise. "O problema é que há um efeito psicológico, que tem segurado o crédito", afirmou o ministro. "Dissemos ao presidente que no exterior ainda não há melhora substantiva do quadro. Embora os governos tenham tomado várias medidas, elas ainda não se traduziram em irrigação de crédito para o setor produtivo. Continua havendo retenção desses créditos", disse. "Ao mesmo tempo, há perda de ativos nas bolsas, que envolvem milhões de pessoas. A redução do valor dos imóveis está diminuindo o poder aquisitivo da população americana e européia. Com isso, é quase certo que haverá retração da atividade econômica e até mesmo uma recessão", acrescentou Mantega. Na avaliação dele, a Inglaterra já deu um primeiro sinal de recessão, por ter registrado crescimento negativo. "Isso poderá ocorrer também em outros países europeus", observou. O ministro disse ainda ao presidente Lula que existem problemas com os fundos de hedge, que trabalham com alavancagem, têm capital de um e emprestam dez, 15 vezes o que têm. Por isso, estão retirando seus investimentos feitos ao redor do mundo, causando um desmonte de posições em ativos de países como o Brasil, México, África do Sul e Austrália. Esse movimento tem levado à valorização do dólar e do iene. O impacto da crise no Brasil não mudou, disseram Mantega e Meirelles a Lula. "Há escassez de crédito para operações de comércio exterior, mas o Banco Central já está ativando uma linha de leilões para troca. Os bancos brasileiros têm títulos do Tesouro, e vão trocá-los por dólares nesses leilões. Com isso, passam a ter recursos para financiar as linhas de exportação. Isso já está começando a irrigar o sistema", afirmou o ministro da Fazenda. Sem subsídios – Mantega disse que as perdas de empresas que operaram com derivativos no mercado cambial podem ser absorvidas pela economia brasileira sem problemas. Elas terão oferta de crédito, mas sem nenhum subsídio, destacou. "O governo não vai salvar nenhuma empresa, mesmo porque são assuntos privados", disse Mantega. "Mas o governo tem obrigação de garantir crédito e liquidez, a valores de mercado, e é isso que estamos fazendo. Nós não vamos absorver nenhum prejuízo dessas empresas. Que fique claro." Com base em informação de Edemir Pinto, diretor-presidente da BM&FBovespa, Mantega disse que o prejuízo total das empresas brasileiras com apostas no mercado futuro pode chegar a R$ 20 bilhões. "Se o problema for da ordem de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões, R$ 20 bilhões – como está sendo dito, não tenho valores –, é um problema perfeitamente absorvível." O ministro observou que não é possível saber a dimensão exata do problema neste momento, porque houve operações em bolsas, no mercado balcão e no exterior. "Mas já pedimos informações e não ouvimos falar de nenhum valor grande." Mantega tornou a dizer que não há subprime (crédito de alto risco) na economia brasileira. "O subprime é ativo tóxico e podre que existe na economia americana, U$ 1,4 trilhão só no sistema de hipoteca. Aqui existe um problema relativamente diminuto diante do tamanho da economia brasileira, que pode ser equacionado sem que isso prejudique a atividade econômica no Brasil." O encontro entre Lula, Mantega e Meirelles foi no escritório da Presidência da República, no edifício do Banco do Brasil que fica na Avenida Paulista. Depois da reunião, Lula conversou com o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider.