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Dólar testa novo piso
Moeda americana chega a R$1,609 e aumenta a procura por viagens internacionais
Ao comentar a elevação da nota do Brasil e a possibilidade de isso atrair mais dólares ao país, acentuando a valorização do real, o ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou:
- O governo vai continuar fazendo medidas para conter o excesso de dólares - disse, para em seguida acrescentar: - Mas é melhor ter esse problema de excesso de dólares do que o problema do passado, de falta de dólares.
Embora já tenha criado uma espécie de punição para os bancos que atuam com excessiva posição de câmbio vendida - que ocorre quando há aposta de queda do dólar -, a equipe econômica estuda agora torná-la ainda mais dura.
No arsenal em discussão, continuam ações como novas altas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) ou algum tipo de quarentena para o ingresso de capital estrangeiro no país.
BC fez dois leilões para forçar alta
A queda do dólar ontem ocorreu mesmo após o Banco Central (BC) fazer dois leilões de compra no mercado à vista, com valor estimado em US$500 milhões. Durante o dia, a moeda chegou a cair 0,37%, a R$1,606. Na máxima do dia, chegou a R$1,620 (alta de 0,49%). Para o gerente da mesa de câmbio da Advanced Corretora, Reginaldo Siaca, o governo tem se mostrado sem muito poder de fogo:
- Acho que o dólar vai buscar um novo piso, de R$1,55, a não ser que o governo venha com medidas muito mais fortes. A moeda americana só não está mais baixa por causa da tragédia no Japão e dos conflitos na Líbia.
Sócio da Consultoria Tendências, o economista Nathan Blanche avalia que as ameaças de autoridades do governo sobre medidas para restringir a entrada de dólares têm sido o principal estímulo para o forte ingresso da moeda no país desde janeiro:
- Não tenho dúvida de que há uma antecipação dos agentes e o principal fator para esse influxo são as ameaças que vêm ocorrendo. Quem precisava ingressar, fosse para a quitação de uma dívida, ou outro motivo, já o fez.
O dólar barato já está levando mais gente a buscar viagens internacionais. Nas agências, ainda há pacotes de férias para Disney em julho, porém a tarifas mais altas. No Grupo Pacífica, o preço está de 15% a 20% mais alto do que há três meses. Já a passagem aérea para Orlando custar até 50% mais.
As casas de câmbio festejam o maior movimento. Segundo Waldir Junior, sócio-diretor da Pioneer Câmbio, a baixa cotação da moeda americana é apenas um dos fatores. Renda maior, parcelamentos mais longos e passagens aéreas mais em conta também pesam. Em sua casa de câmbio, as negociações de venda do dólar turismo mais que dobraram em um ano. Ontem, a empresa movimentou mais de US$250 mil, bem acima dos US$150 mil registrados de 1º a 4 de abril de 2010.
- Chegou a faltar dólar sexta-feira. Agora, faço entregas em bairros como Méier, Bangu, Santa Cruz, Campo Grande. Ano passado, a venda era localizada em bairros como Leblon, Ipanema, Barra e Botafogo - disse Junior, ressaltando que o tíquete médio caiu de US$7 mil para US$1.500. - A classe média alta não alterou a compra, mas a classe C passou a comprar mais.
João Cavalcante já fechou sua viagem para os EUA há três semanas, com a mulher e a cunhada. Por 15 dias, vai a Califórnia e Las Vegas. O custo será de R$5 mil por pessoa.
- Desde 2008, não se vê um dólar tão baixo. Amanhã (hoje) começo a comprar dólar - disse Cavalcante.
Ontem, o Conselho Monetário Nacional (CMN) ampliou a base de incidência do novo IOF sobre captações externas de empresas. A medida publicada na semana passada aumentava a tributação apenas para novas operações. A resolução de ontem incluiu renovações e assunções (quando uma empresa repassa o contrato a outra).
Outra medida que está em estudo, no governo, é uma nova limitação para a aposta dos bancos da queda do dólar. Em janeiro, foi anunciado que, em 90 dias, seria cobrado um depósito compulsório de 60% para as instituições cuja posição vendida excedesse US$3 bilhões ou seu patrimônio de referência. A exigência entrou em vigor ontem. Quando foi anunciada a restrição, a posição vendida dos bancos estava em US$16,8 bilhões, sendo que a expectativa era que a medida levasse à compra de, pelo menos, US$7 bilhões para zerar posições e escapar do compulsório. Os dados do BC de fevereiro mostram que a posição vendida fechou o mês em US$12,7 bilhões.