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Consumidor apreensivo com crise

Clayton Melo Neila Baldi Sheila Horvath A pesquisa Retratos da crise: as classes C e D em estado de alerta, feita pela agência McCann Erickson, é um bom termômetro para saber como o consumidor latino-americano reage diante da turbulência financeira internacional. Realizado entre os dias 25 e 31 de outubro no Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, Honduras, México e Panamá, o estudo constata que o entusiasmo das classes C e D com o crédito fácil, que estimulava as compras, deu lugar a um consumidor mais criterioso e ponderado. Ele teme os efeitos da crise, embora não acredite que sua vida econômica já tenha piorado em função do vendaval financeiro dos EUA. O que preocupa o consumidor para valer não é o momento atual, mas sim o que pode acontecer lá na frente. Enquanto 85% afirmam que a vida hoje, na comparação com os últimos três meses, é regular ou boa, 76% se dizem preocupados ou muito preocupados com o futuro. A população das classes C e D acredita que sentirá a crise de fato quando o desemprego alcançar sua família (42%) e o dinheiro não for suficiente para pagar as contas (62%). Assim, elas se previnem e adotam postura cautelosa, postergando as compras e os investimentos, segundo 61% dos entrevistados. Um dado importante é que os brasileiros são os únicos que se sentem menos vulneráveis que os irmãos latino-americanos. Avaliações Os dados do estudo permitem concluir que, mesmo com notícias reais da crise, uma boa dose de pessimismo no consumidor é potencializada pelo clima de apreensão instaurado. É o que pensa Sidnei Porto, diretor de planejamento e relações com o mercado da Gerencial Brasil, de Belo Horizonte. – A raiz da crise no Brasil é psicológica. As coisas aconteciam em ritmo normal e pararam de acontecer em razão da perspectiva de que a situação iria piorar – diz Porto. Para o consultor Marcos Gouvêa, da Gouvêa de Souza & MD, existem alguns sintomas da crise no varejo – a queda nas vendas dos carros, a leve desaceleração da venda de eletroeletrônicos, redes de vestuário reduzindo prazo para parcelamento, consumo de luxo em desaceleração – mas, para ele, trata-se de questões pontuais. – Temos quatro fatores que impactam o consumo: renda, emprego, crédito e confiança. No caso do Brasil, renda e emprego não tiveram reduções, quanto ao crédito, tivemos alguns ajustes de prazos e taxas. O problema está no índice de confiança – avalia. Gouvêa explica que o clima de recessão faz com que o consumidor passe a incorporar preocupações e ter mais cautelas com as compras. Uma pesquisa realizada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) comprova a tese de Gouvêa. O levantamento feito em duas etapas, no dia 17 e 31 de outubro, com a 1.116 paulistanos, mostra que a percepção de que a crise vai afetar de alguma maneira a situação econômica do País subiu de 67% para 75%. A percepção de que afeta as condições financeiras de sua família permaneceu estável em torno de 14%. A conclusão da entidade é de que o paulistano não acredita que a crise afetará a sua família no mesmo momento em que pode afetar a economia do país. – Nos últimos três anos, foi o consumo que puxou o PIB do Brasil e isso não deve se alterar, nem em 2008, nem em 2009 – afirma Gouvêa. Porém, no próximo ano, o varejo não deve apresentar a mesma performance que nos dois anos anteriores. A Tendências prevê um aumento de 5,2% nas vendas. Apesar da desaceleração esperada, Gouvêa afirma que o varejo está olhando com cautela, mas sem planos de rever metas e investimentos. Ao menos, por enquanto. O setor de marketing promocional, que registrou cancelamento de eventos de fim de ano, contraria a tese de Gouvêa. Um exemplo é a Reciclo Comunicação, onde foram canceladas algumas promoções de eventos. – As empresas estão esperando para ver o que vai acontecer. Estão mais cautelosas e preocupadas – afirma Marconi Procópio, presidente e diretor de Criação. Na Fischer América, no entanto, as metas traçadas para este ano serão cumpridas: – Todo o investimento previsto para o último trimestre deste ano foi concretizado. Posso dizer que em 2008 não sentimos a crise – afirma o vice-presidente de operações, Dado Lancellotti, que acredita que 2009 será um ano de planejamento criterioso e de bastante cautela. – Provavelmente 2009 será um ano com orçamentos mais flexíveis e também com mais revisões de investimentos. Lancellotti diz que a classe C não sentirá a crise sozinha.